Pesquisadores da Rede Genômica se juntam a um grande esforço internacional de pesquisa para entender a expansão do Oropouche para além da Amazônia
O vírus Oropouche (OROV), causador de uma arbovirose transmitida por mosquitos culicídeos (popularmente chamados de maruins) foi detectado pela primeira vez na região amazônica, e tinha a sua distribuição restrita a esse bioma e às zonas urbanas e rurais próximas. Após um grande evento epidêmico na região, ocorrido entre 2023 e 2024, casos de Oropouche começaram a ser detectados fora da Amazônia.
Como o vírus Oropouche tem sintomas similares aos de outras doenças transmitidas por mosquitos, a realização de um diagnóstico molecular e do sequenciamento genômico de uma amostragem desses casos é importante para acompanhar a expansão do vírus para novos territórios, assim como as consequências disso para a saúde coletiva e para a evolução viral.
O estudo aqui resumido foi publicado em um dos maiores periódicos científicos da área de saúde do mundo, e traz o resultado da investigação dos fatores que podem estar favorecendo a ocorrência de surtos de OROV em algumas localidades externas à Amazônia. Para isso, a série histórica de casos ocorridos entre janeiro de 2023 e julho de 2024 foram mapeadas, e uma série de dados sobre os municípios de origem foram usados para tentar entender como algumas características de cada local estavam relacionadas à incidência estimada do OROV.
Os modelos apresentados no artigo mostram que fora da região Amazônica, cidades pequenas foram muito mais afetadas por casos de OROV que cidades grandes. Além disso, o estudo encontrou uma correlação positiva entre a área plantada de banana no município e o número de casos de OROV. O cultivo de banana gera um ecossistema ideal para a proliferação do maruim e neste trabalho demonstramos como essa atividade pode estar intimamente ligada à ocorrência dos surtos fora da região Amazônica. ,. Neste estudo também foi realizado o sequenciamento genômico e análise filogenética de 32 novos genomas de OROV a partir de casos de diferentes estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, onde demonstramos que a nova linhagem recombinante, identificada por nosso grupo em estudo anterior, foi “exportada” da Amazônia múltiplas vezes . O vírus demorou entre 50 e 100 dias, a depender da localidade, para estabelecer um ciclo local de transmissão após sua introdução. Entender como o Oropouche se estabelece em cada localidade e quais fatores ecológicos estão influenciando nesse processo é de fundamental importância , assim como manter a vigilância genômica para que se possa acompanhar a evolução viral, ocorrência de novas mutações e recombinações que possam impactar na biologia do vírus e na dinâmica de ocorrência de casos.
Gräf, T., Delatorre, E., do Nascimento Ferreira, C., Rossi, A., Santos, H. G. G., Pizzato, B. R., … & de Lima Campos, T. (2025). Expansion of Oropouche virus in non-endemic Brazilian regions: analysis of genomic characterisation and ecological drivers. The Lancet Infectious Diseases, 25(4), 379-389.